Nunca está bom: o perfeccionismo

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Imagina ter um chefe que te cobra o tempo todo. Todas as atividades que ele te dá, mesmo você executando com maestria, nunca está bom! Ele sempre faz críticas as suas atitudes ou resultados. Mesmo que pertinentes, são sempre duras e praticamente não existe nenhum elogio. Quando não há o que criticar, o que é raro, ele tem um ar de "não fez mais que a obrigação". Consegue imaginar trabalhando com alguém assim? Imagina a pressão que essa cobrança toda gera! Agora imagina que esse chefe está na sua cabeça, cobrando de você mesmo e terá uma noção de como é ser um perfeccionista.

Perfeccionismo - perfeccionismo ou perfecionismo s. m. - Tendência, patológica, em procurar exageradamente a perfeição.

Durante muito tempo eu achei que o perfeccionismo fosse uma virtude. Eu me orgulhava por ser perfeccionista. Não me gabava. Não "me achava". A busca pelo perfeito impede que se ache o máximo. Os bons frutos que são gerados pelo perfeccionismo me ajudavam a achar que era algo bom da minha personalidade.

Ser perfeccionista, como tudo mais, tem seu lado bom. Por estar sempre se cobrando, as coisas são feitas com mais empenho. Com critério. Com chance menor de serem mal feitas. Para as pessoas que não tem o perfeccionismo para pressiona-las, podem se impressionar com o que foi feito. Achar que está ótimo o resultado. Mas para o perfeccionista, caberá sempre uma crítica. "Ok, mas poderia ser melhor!"

Além da pressão que é feita a si mesmo. O perfeccionista pressiona àqueles que o rodeiam. É difícil entender como as pessoas não dão a mesma atenção a aquilo que estão fazendo. Como os outros não se esforçam ao máximo para alcançarem a perfeição. Mas saiba de uma coisa e tenha certeza disso: Um perfeccionista, por mais que cobre de você, NUNCA será a mesma que ele faz a si mesmo.

Toda essa "auto-pressão" deixa o perfeccionista em frustração eterna que é gerada pela impossibilidade de se alcançar a perfeição. Sempre é possível melhorar. Sempre existe um novo degrau a subir.

Além da angústia gerada pela eterna busca da perfeição, todo esse esforço em procurar melhorar sempre, faz com que não se aproveite as conquistas. A atenção é tão grande no passo seguinte que, depois de alcançar algo, mesmo sendo uma grande conquista, perde todo o seu valor em prol do esforço que se precisa fazer para melhorar e buscar o novo objetivo. Fica apenas o alívio de ter passado mais essa etapa. Esse novo objetivo vai perder a graça assim que for alcançado e o ciclo se reinicia. A frustração é constante.

Não confunda um perfeccionista com alguém que se acha um coitado. Ele sabe a importância das suas conquistas só não fica satisfeito com elas.

Apesar da angústia de nunca ser bom o suficiente que o perfeccionismo trás à quem o possui, as virtudes acabam sendo um obstáculo para o perfeccionista. Mesmo percebendo que o é, ele se justifica nas conquistas obtidas. Julga serem, as conquistas, frutos de suas atitudes perfeccionistas e que se não tivesse pegado tão pesado nas cobranças para conquistá-las, ele não teria conseguido.

Os elogios são aceitos mas não fazem muita diferença. O importante agora é o que vou ter que fazer para conseguir atingir o próximo objetivo. Isso torna muito complicado aprender a se cobrar menos. Mas é preciso, pois como disse o Bernardinho, técnico campeoníssimo de volei e perfeccionista: "Não se pode viver de alívios".

Como eu disse, sou um perfeccionista. Sou consciente disso e a muito tempo percebi que não é uma virtude, mas um defeito. Cada texto que eu já postei aqui e, certamente, todos que ainda espero postar, são postados sem, para mim, estarem prontos. Tenho críticas severas a todos e acho que nenhum deles está pronto para ser publicado. Esse texto será, certamente, publicado com essa sensação.

Nota: 6 é o primeiro número perfeito.



Written by Eduardo Elias in Pensando on Tue 18 January 2011. Tags: Perfeccionismo,

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